Evita Perón

Na lista das mulheres por quem tenho uma grande admiração está Evita Perón. As vezes ela ocupa o terceiro, as vezes o quinto lugar.

Eva Perón era uma figura contraditória. Por isso gosto dela. Não gosto das certinhas, óbvias ou medrosas. Prefiro as normais, nem muito boas, nem perfeitas. Gosto das humanas e corajosas. E isso ela foi.

A história de Evita todo mundo conhece. Ela era a quarta filha bastarda de um fazendeiro. 

Numa época onde ser bastarda era pior do que ter lepra, Evita e seus irmãs sofreram todo tipo de humilhação e preconceito. Desde de não poder conversar com os colegas na escola, até não ter permissão para ir ao enterro do próprio pai. E coisas muito piores, que a gente acha que só existem em filmes. Pois Evita passou por tudo isso.

Para fugir de um futuro medíocre e pobre, Evita se mudou para Buenos Aires e rapidamente usou a única arma que tinha, já que não era nem bonita, nem talentosa. Usou a cabeça.  Depois de comer o pão que o diabo amassou, Evita percebeu que além do cérebro, tinha outra arma: a voz. Resolveu usá-la bem e tornou-se cantora de rádio. Foi assim que conheceu o então Ministro do Trabalho, o poderoso e sedutor Juan Perón. Em pouco tempo estavam apaixonados e se casaram.  E em 1946, Perón ganhou a disputada eleição  e tornou-se Presidente da Argentina.

De pobre e bastarda, Evita passou a ser a mulher mais importante da Argentina.

Carismática e elegantérrima, Evita tinha horror a qualquer tipo de  injustiça, principalmente se fosse cometida com os mais fracos. No mesmo mês da vitória, ela criou a Fundação Evita Perón, onde trabalhava mais de 18 horas por dia. 

A Argentina estava quebrada, por causa da crise de 29 e a população estava dividida entre os muito ricos e os palpérrimos, sendo que os últimos eram a grande maioria.

Evita ajudava a todos. Dava remédio, arranjava trabalho, cuidava dos doentes, ouvia com atenção cada um dos que a procurava. Promovia bailes e festas para arrecadar dinheiro e falava em alto e bom som: '' Prefiro ser a Evita do meu povo do que ser a Sra Perón dos poderosos. Só estou aqui por causa do dinheiro de vocês.''  E ainda assim, os ricos abriam a carteira. Em parte por medo da influência daquela que em pouco tempo, tornara-se a mulher mais poderosa do país,  e em parte pelo fascínio pessoal que ela exercia.

E assim, em apenas 7 anos, Evita se transformou em Santa Evita, mãe dos descamisados. E eles a adoravam!  

Populista? Pode ser, mas mesmo os seus críticos mais ferrenhos  concordam que Evita fazia o que fazia pelo simples fato de ter passado por tudo o que passou na infância e na adolescência. Por ter sido parte dos descamisados, ela sabia o que se passava em cada um dos lares pobres de seu país. E como não teve filhos, sua vida era dedicada ao povo. Ela realmente se comovia com o preconceito, a miséria e a injustiça. 

Seu outro lado, era contraditório. Evita adorava roupas e jóias e seu closet era fascinante! Repleto de vestidos de grandes costureiros e jóias caríssimas, que ela exibia em suas viagens ao redor do mundo. E o mais impressionante, era que Evita trabalhava para os pobres vestida como uma rainha. De tailleurs chiquérrimos, casacos de peles, unhas e batom vermelhos e o cabelo loiro sempre impecável. E o povo amava vê-la assim. Sentiam-se respeitados e queridos. Para o povo sofrido, Evita era a sua voz. A única pessoa capaz de ouvi-los e entendê-los. 

Perón foi reeleito e obviamente todos os méritos foram para Evita. Seus discursos arrebatavam multidões de apaixonados pela ''mãe do povo.''  Ela conseguiu legalizar o voto feminino, fundou vários hospitais, construiu asilos e creches e conquistou diretos trabalhistas.  Discutia economia, política e educação desde que fossem pelo seus ''descamisados''.  Tinha influência em simplesmente todos os aspectos do poder. 

Sua vida se confundia com a da própria Argentina. 

Aos 33 anos, Evita morreu, vítima de um câncer de ovário, diagnosticado em estado avançado.

Sua morte causou uma comoção nunca antes vista no mundo. Foram 14 dias de velório e seu cortejo fúnebre levou às ruas milhões e milhões de argentinos.
Um fenômeno que surpreendeu a imprensa do mundo inteiro, encantada e impressionada, com a influência da pequena Eva.

Sua vida foi vista em vários filmes (Madonna, péssima atriz, sempre teve o sonho de viver Evita), foi cantada em musicais  ( um dos mais conhecidos musicais do mundo é Evita de Andrew Lloyd  Webber), e escrita em dezenas de livros, ensaios e artigos. 

A nota de 100 Pesos Argentinos tem sua efígie. E desde que voltou ao cemitério da Recoleta, seu tumulo nunca ficou, um dia sequer, sem flores. 

Evita tornou-se uma celebridade, um mito, um ícone, uma lenda.

''Talvez em breve, quando eu tiver ido para o céu, alguém irá dizer de mim o que as crianças do povo têm vontade de dizer, quando suas mães também vão para o céu:”

Evita Perón