Soneto de um dia de domingo




´´Em casa há muita paz por um domingo assim.
A mulher dorme, os filhos brincam, a chuva cai...
Esqueço de quem sou para sentir-me pai
E ouço na sala, num silêncio ermo e sem fim,


















Um relógio bater, e outro dentro de mim...
Olho o jardim úmido e agreste: isso distrai






















Vê-lo, feroz, florir mesmo onde o sol não vai
A despeito do vento e da terra que é ruim.
























Na verdade é o infinito essa casa pequena
Que me desamortalha o sonho e  me abriga da desventura














E a mão de uma mulher fez simples, pura e amena.
O sorriso, as crianças, a comida.





















Deus que és pai como eu e a estimas, porventura:
Quando for minha vez, dá-me que eu vá sem pena


















Levando apenas esse pouco que não dura.
Um domingo nesta casa que tanto estima.





















Este calor que não vem do fogo. 
Mas que esquenta e alimenta.´´
Vinícios de Moraes 













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