O Minas, a guerra, um dia de sol e a menina cega.

´´Os livros trazem alegria e prazer. E nos fazem pensar. E só pensando somos capazes de olhar o mundo com outros olhos´´.
Érico Veríssimo.


Ontem eu estava na piscina do Minas, me refastelando com um sábado de sol. Depois de uma sauna, massagem e uma saladinha, lá estava eu na espreguiçadeira, suco de laranja geladinho, protetor solar, óculos escuros,  uma piscina enorme à minha disposição e meu livro Toda a Luz que Não Podemos Ver. Que felicidade!
( Atenção: a partir daqui este post contem Spoiler, sem os quais não poderia escrevê-lo!!! )


Abri o  livro e comecei a ler os capítulos finais, onde a protagonista Marie-Laure, uma garota cega, refaz sua vida após a guerra. Ela volta para Paris em 1945, depois de fugir do cerco a Saint Malo. Os franceses estão voltando para casa depois dos anos da ocupação alemã e com o fim da guerra, tentam se livrar dos horrores vividos. Eles vão limpar as casas (ou o que sobrou delas), cerzir as roupas, consertar as janelas, polir os móveis que restaram, procurar os sobreviventes, enterrar os mortos, replantar os jardins. Muitos estão feridos no corpo e na alma. Muitos perderam tudo, braços, pernas, família, filhos, casas. Muitos passaram fome, foram violentados, perderam a dignidade.  E ainda assim eles tem força, esperança e coragem para recomeçar. Porque simplesmente eles sobreviveram.
Enquanto lia essa parte do livro, olhava à  minha volta e as crianças  brincavam barulhentas  na piscina. As mães tomavam sol e os pais bebiam cerveja alegremente.
Enquanto Marie - Laure saboreava um pêssego em caldas mofado, depois de 4 dias sem nem beber água, na mesa perto de mim, um menino fazia birra porque a Coca não estava ´´geladinha´´.
Enquanto Jutta, uma orfã alemã,  recebia a mochila do irmão morto, uma mulher espalhava bronzeador despreocupadamente.
Enquanto no livro,  Etienne, um francês de 73 anos saia da prisão, pele e osso, no Minas uma senhora destratava a vendedora da lanchonete que colocou 95 gramas ao invés de 100 do seu yogurte.
Enquanto na Paris de 45  uma mãe abraçava o filho  que voltava do campo de concentração destroçado, um adolescente brigava com a mãe aos berros no celular ao meu lado.

Veríssimo tem razão:  é isso o que os livros fazem com quem os lê. Faz com que olhemos o mundo, e as pessoas, com outros olhos.









5 comentários:

Anônimo disse...

Kika, tranquilidade para ler e Minas Tênis não combinam!!!

Kika Gontijo disse...

Anônimo querido!
Para quem gosta realmente de ler, a tranquilidade é só detalhe. Leitores leem no carro, no ônibus, na rua, na sala do dentista, na praia, no restaurante esperando o café, no metrô. Quem gosta de ler não escolhe o lugar, a hora o dia. Um livro te transporta para outro mundo. Então, o mundo que você está enquanto lê não tem tanta importância.
Beijos carinhosos,
Kika

Anônimo disse...

Kika! Amo vc e seus comentarios!

Anônimo disse...

Adoro a sua inteligência e a maneira que consegue colocar, em palavras, a vida atual. Parabéns, Kika, você arrasa, como sempre!

Carol

Flavinha disse...

Amo este programinha, da proxima vez nao esqueca de mim!
PS:Juro que nao vou reclamar da Coca quente.