Dona Maria do bairro

Sou bairrista. Fazer o quê?!?!?!
Adoro o meu bairro! Meu escritório fica lá, o supermercado, o salão, a escola que meus filhos estudaram a vida toda, o açougue, o sacolão, o parque onde ando, a costureira, a lavanderia, o petshop, o banco, a farmácia. Minhas irmãs moram lá, meus pais e minhas amigas.
Gosto de bairro com gente que mora neles a vida toda, de casas pequenas e coladinhas, ruas de paralelepípedo, do comercio simples.
Algumas cenas, só mesmo nesses bairros a gente vive. Dona Maria trabalha há 27 anos num prédio vizinho ao meu. Pequenina, ligeira, 70 anos, forte, com sorriso largo, passos rápidos.  É ela quem leva o cão da família para passear todas as manhãs. Cumprimenta sem exceção quem cruza o seu caminho (´´todo mundo gosta de um Bom dia´´, ensina ela), engata um papo com quem já tem mais intimidade, e conta que a boa forma e a saúde vem desde cedo: ´´carreguei muita lata d´água e trouxa de roupa na cabeça! E adoro uma ladeira! Tem ladeira, eu subo! Deus deu pra gente perna e força pra quê? Pra gente usar, oras!´´. E a alegria? ´´Vem de dentro! Tô viva, num tô?´´. Tá, dona Maria, muito mais viva que muita gente com a metade da sua idade!
Hoje, saindo da minha garagem, vejo um amontoado de cachorros e seus donos do outro lado da rua. Claro que com a minha curiosidade, parei na hora e fui saber do que se tratava. Dona Maria estava distribuindo pedacinhos de ´´bolo´´ para os pets! E não era qualquer bolo! Ela fez uma mistura de ração, carne moída (´´sem tempero, minha filha, que é para não dar dor de barriga no bichinho´´), e água. Pôs na geladeira, modelou tal e qual um bolinho e levou para distribuir para a bicharada da rua. Os donos e seus ´´amiguinhos´´ adoraram, claro!!! Dona Maria dava o bolo para os pets e a receita para os donos na maior alegria do mundo! A rua ficou cheia, os cachorrinhos felizes e a gente fica com aquela sensação boa de que o mundo é sim um bom lugar para se viver. Pelo menos o meu bairro, que tem dona Maria, é.