Não. Maria Antonieta não foi a última rainha da França.
A verdadeira rainha do reino da Flor de Liz está bem viva e com o belo pescoço no lugar.
Ela é Jacqueline de Ribes.
Jacqueline nasceu em Paris, em 1929 em berço de ouro. Seu pai era o Conde de Bonnin de la Bonniniere e Beaumont e o dinheiro da família era proporcional ao tamanho do título. E a irresponsabilidade também. Jean de Beaumont era um sedutor, charmoso, e bon vivant. Adorava caçadas e ... mulheres, o que deixava a vida familiar em décimo plano. Já da mãe, Paule, uma intelectual brilhante, que era a tradutora das obras de Hemingway, Jacqueline não tem boas lembranças. Contam que Paule zombava da filha porque ela queria ser bailarina e preferia a dança aos livros. ´´Só ganhei um único beijo da minha mãe em toda a minha vida´´, conta Jacqueline.
Com uma família assim, seu porto seguro era o avô materno, com quem ela foi morar ainda pequena e com quem passava longas temporadas em seus castelos, mansões e iates. Quando ele morreu Jacqueline tinha 10 anos e ficou desolada. ´´Nunca me senti tão só e tão insegura´´.
Mas ela não teve tempo de chorar, porque meses depois, estourava a Segunda Guerra. Como todo europeu, Jacqueline aprendeu a passar pelos tormentos da escassez (embora sua família fosse milionária), ´´não se tratava de ter dinheiro. Não havia o que comprar. Além de ser extremamente deselegante fazer extravagância naqueles tempos´´. Conviveu com o medo quando os alemães invadiram o castelo onde ela estava.
Aos 18 anos, linda, alta, elegante e bem educada, Jacqueline conheceu Edouard, o Visconde de Ribes. Os dois se apaixonaram e em pouco tempo se casaram. Foram viver no chateau da família de Edouard no 18th arrondissement, em Paris. Era tudo tão grandioso que Jacqueline, Edouard e os dois filhos viviam numa ala da casa que mais parecia um palácio. Edouard, dono de títulos e de muito dinheiro, ganhou mais títulos e mais dinheiro. Herdou do pai o título de Conde, um banco e dezenas de propriedades.
O mundo saía da guerra e tudo era festa. Os de Ribes eram jovens, inteligentes, cultos e milionários.
E Paris era a ´´capital ´´ do mundo. Não havia festa que fosse festa se Jacq e Edouard não estivessem presentes. Alta, magérrima, com pernas de atleta, estilosíssima e com postura de rainha, Jacqueline virou musa dos grandes estilistas. Yves Saint Laurent a chamava de ´´unicôrnio de marfim´´. Oleg Cassini ficou tão deslumbrado que desenhou uma coleção inteira para ela. Valentino, Emilio Pucci, Cardin. Todos davam um dedo para que Jacq usasse um de seus vestidos.
O guarda roupa de Jacqueline era um luxo. Repleto do havia de melhor em matéria de moda. E haviam as jóias. E que jóias. Perguntada onde comprava suas jóias, ela respondia ´´nunca comprei. Jóias, tapetes e obras de arte você herda´´. É mole?!
Os de Ribes circulavam pelo mundo em bailes, jantares e grandes aberturas de exposições. Seus amigos iam da Duquesa de Windsor à Nam Kampner e Gloria Vanderbilt. De cabeças coroadas, aos grandes escritores boêmios, de banqueiros à políticos. Os de Ribes eram cidadãos do mundo.
Uma vez, Jaqueline comentou com o sogro que havia convidado o Duque e a Duquesa de Windsor para jantar. O sogro disse que isso não seria possível: ´´um casal divorciado não pisa nesta casa´´!
Assim era a vida de Jacqueline. Entre a tradição da nobreza familiar, e o grand monde da moda e da alta sociedade. Na hora das escolhas, ela ficava com a tradição. Sua vida era elegante em todos os sentidos. Sua amiga Marina Cicogna conta que naquela época a high society bebia muito, cheirava cocaína e traía com vontade. E Jacqueline, que odiava tudo isso, apenas comentava que tudo era ´´trés énergetique!
E embora vivesse entre a aristocracia europeia e tivesse um marido banqueiro, Jacqueline era livre. Edouard sabia que sua mulher não era como as outras. ´´Ela precisava da liberdade como do ar que respirava. Ninguém a colocava numa cela´´, conta Herrera, seu grande amigo.
Ela foi uma das primeiras mulheres a usar delineador. ´´Queria parecer a Nefertiti´´!
O que mais chamava a atenção em Jacqueline era sua elegância natural e maneiras delicadas de rainha. ´´Ninguém fazia uma ´´entrada´´ numa festa como Jacqueline´´, dizia Oscar de la Renta.
Seu sogro, o poderoso Conde de Ribes, dizia que Jacqueline era uma mistura de ´´rainha russa com uma garota do Folies Bergère´´.
Os de Ribes rodavam o mundo, mas sempre voltavam para casa. Jacqueline adorava o aconchego do lar.
Ela cuidava dos filhos, da casa e do marido, embora alimentasse o sonho de trabalhar.
Um dia, aos 50 anos, ela chamou a família e disse ´´cuidei de vocês a vida inteira. Agora vou fazer o que eu sempre sonhei. Vou trabalhar. Abrirei um atelier de moda. E não há nada que vocês possam fazer para me impedir´´. É claro que ninguém a contrariou. E assim, com o apoio do marido e dos filhos, Jacqueline inaugurava a JR, sua grife.
Entre um desfile e outro, Jacq circulava pelas festas. Bailes da nobreza européia, jantares em NY com os Vanderbilt, férias no iate de Onassis, semanas em castelos da Itália. Seu nome nunca deixou de constar na lista das mais elegantes e não havia um mulher esclarecida no mundo que não quisesse se vestir como ela.
´´Enquanto as mulheres se esforçam para encontrar um estilo, Jacqueline de Ribes já nasceu com o seu. E ninguém consegue imitá-la´, falava Diane Vreeland
Um dos desfiles de sua marca, JR, foi feito na sala de seu casa em Paris. Os convidados ficaram de queixo caído com a maravilha da casa e com o fato de que nunca antes um costureiro fizera um desfile em casa!
Mas Jacqueline não era só um cabide! Muito longe disso!!! Ela era cultíssima e, talvez por um trauma de infância, passou a devorar livros. E tinha outra paixão, além da moda. As artes e a caridade. Ela promovia festas e arrancava dinheiro para ajudar suas causas. Em 2003 ela ganhou a poderosa medalha da Legion d´honeur, das mãos de Sarkozy pelos serviços prestados ao povo francês. O discurso do marido levou a platéia ás lágrimas ´´não há um dia que não olhe para Jacqueline e não diga a mim mesmo, que sortudo sou por tê-la ao meu lado´´.
A elegância de de Ribes não vem das roupas.
A Condessa Isabella de Romanovik contou para a Vanity Fair que ´´eu não conseguia tirar os olhos de Jacqueline. Desde o modo como esquiava até a maneira como tirava as luvas, chamava o garçom ou cumprimentava alguém. Ela tinha um vocabulário vasto e um jeito perfeito de falar e de se locomover. Nunca conheci ninguém como ela´´.
Em 1995, Jacqueline deixou o dia-a-dia da sua marca, e vendeu-a a um grupo japonês. Sua saúde não estava bem e Edouard estava envolvido num escândalo de sonegação fiscal. Era hora de se recolher.
Jacqueline passou a se dedicar á Fundação Bank Rivaud, o banco da família de Ribes. Onde ainda hoje, todos os dias, ela e Edourd vão trabalhar. ´´Eu e Edourd nos amamos. E por isso mesmo conseguimos passar por tantas coisas. Porque sabemos que o amor precisa de liberdade e de compreensão. Ambos somos livres, mesmo estando casados. Esse modo francês de encarar o casamento, o amor e a vida à dois é bem complexo e eu adoro isso.´´
Grande, Jacqueline! Quem é Maria Antonieta perto desta grande dama!
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