Bola Fora

´´Eu sei -- e as mães dos árbitros sabem mais ainda -- que palavrão é mais comum em partida de futebol do que gol de falta. Eu sei que, no "hit parade" dos estádios, um destaque é uma música que diz assim: "Araruta, araruta...eeeeh... filho da puta". Eu sei daquela definição batida de Nelson Rodrigues de que, "no Maracanã, vaia-se até minuto de silêncio e, se quiserem acreditar, vaia-se até mulher nua". E eu sei, finalmente, que, no encerramento da Copa do Mundo da África do Sul, tanto o presidente Jacob Zuma como o presidente da Fifa, Blatter, também foram vaiados. Mas eu sei também que já houve presidente brasileiro aplaudido em estádios, inclusive o pior deles, Médici, num Fla-Flu de 1969 no Maracanã e num São Paulo x Palmeiras de 1970 no Morumbi. Eu sei. Ainda assim eu não entendo e não aceito é como a mesma plateia que é capaz de cantar o Hino Nacional a capella faz uma grosseria dessas com Dilma na estreia do Brasil no Itaquerão. Vaiar é do jogo. Vaiar é do jogo. Mas o uso daquele palavrão contra uma mulher, mesmo que não fosse a presidente, foi um “ponto fora da curva”.´´

Colunista Ancelmo Gois, na coluna de hoje do jornal O Globo.