O diário

Quando eu tinha 10 ou 12 anos, uma amiga  ganhou de presente de aniversário um diário. Lindo, da Tiffany, de couro vermelho,  com suas iniciais gravadas em baixo relevo e um cadeadinho de ouro com uma corrente de coração, feito para ela. Um luxo.
Quase morri de inveja.
Ela sempre escrevia em seu diário e, claro, trancava. Colava adesivos, fotos, cartões.  Ai de quem pedisse para ver ou ler. Era a sensação do momento tentar adivinhar o que ela tanto escrevia.
Um diário era para ser guardado a sete chaves. Seus pensamentos, seu dia-a-dia, seus sentimentos deveriam ser privados e compartilhados com os muito íntimos.
Já hoje em dia ....
Ai de você se não ''compartilhar''  o que comprou, para onde viajou, com quem estava...

Bom, mas o tempo passou, ela cresceu, o mundo mudou. Ela não mora mais na mesma cidade que eu, embora continuemos amigas. Ela continua linda e chiquérrima. Dia desses ela me contou que continua escrevendo seu diário. Aquele já acabou, as páginas gastaram, mas ela o guarda com carinho e ... trancado.
Ela continua levando sua vida com uma discrição impressionante. Tal e qual o diário. E é para mim, uma das mulheres mais elegantes que conheço e em quem me inspiro sempre.