Eu, que não sou eu e a sombrinha florida

Hoje eu tive dois exemplos diferentes sobre o ser humano.

Saí apressada do escritório, depois de imprimir mais de 20 documentos, requerimentos, formulários, etc, emitidos pelo meu zeloso contador. Eu tinha que fazer o Certificado Digital, tarefa burocrática chata, mas necessária, que tenho que fazer todo ano para manter minha pequena empresa funcionando. Faço isso há cinco anos, anualmente. Pois bem, tomei um taxi debaixo de chuva e parti para os Correios. O gentil funcionário, depois de analisar detalhadamente meus papéis, me disse que eu ´´podia´´ não ser Christiana Gontijo Barbosa. Oi????????????
A assinatura da minha carteira de identidade, que tirei há 15 anos atrás não conferia com um dos papeis assinados há 2 anos. Claro que não! Tirei a carteira há 20 anos! Hoje tenho 50! Minha assinatura mudou, oras! Meus argumentos foram em vão. O gentil homem não ficou convencido de que eu ... era eu. E não havia nada que eu pudesse fazer. Aliás, contra a burocracia não há mesmo nada que qualquer ser humano seja capaz de fazer. Pedi para ele educadamente que me devolvesse os documentos. ´´Mas o que a senhora vai fazer?´´, perguntou ele?  Nem respondi! O que eu poderia fazer??? Nascer de novo? Voltar aos 20 anos?
Enfim, saí dos Correios e a chuva começou forte. E eu, sem sombrinha, me protegendo com a pasta de plástico contendo meus documentos que comprovavam que eu não era eu. Parada no sinal para atravessar, uma senhora simpática, com um guarda-chuva florido, se aproximou de mim e perguntou: ´´você está indo para onde?´´. Ai meu Deus, pensei, ela deve estar perdida e vai querer que eu a leve até um endereço qualquer, e eu aqui, toda molhada, cheia de documentos e com raiva! ´´Vou atravessar a rua´´, respondi com um meio sorriso. Ela, para minha surpresa, me disse: ´´então entra aqui embaixo da minha sombrinha, minha filha! Você vai molhar seu cabelo e seu casaco! Ela é pequena, mas cabe nos duas!´´
Tive vontade de chorar! De alegria, pelo oferecimento. De vergonha de mim mesma, por achar que era eu quem teria trabalho. De esperança, de saber que ainda existem pessoas gentis e atenciosas neste mundo.
Atravessamos as duas pistas da avenida, bem juntinhas, debaixo da pequena sobrinha florida da senhorinha.