Ellen e a liberdade

A cadeia de lojas americana JC Penney contratou a apresentadora Ellen Degeneres para desenhar uma linha de roupas e acessórios para casa, de olho na popularidade impressionante da moça.

Foi só isso acontecer, que a Liga Milhões de Mamães  _  uma espécie de Tradicional Família Mineira do tio Sam _ começou uma campanha para que a cadeia de lojas demitisse a apresentadora  já que ''Ellen  não é um bom exemplo, nem se encaixa nos padrões tradicionais da loja'', incentivando a todos os que prezam ''os bons costumes'' que não comprassem mais na JC Penney.

Ellen é lésbica assumida, casada há anos com a bela Portia de Rossi. Foi uma das primeiras celebridades a assumir publicamente ser homossexual. Seu programa na TV tem uma das maiores audiências dos Estados Unidos _ perdendo para Oprah e Martha Stewart, apenas. Sua fortuna ultrapassa os 65 milhões de dólares, e ela é considerada uma das 10 celebridades mais influentes dos Estados Unidos.

 Ano passado foi convidada por Hillary Clinton para representar os EUA nas campanhas de pesquisa da Aids e recebeu em seu programa Michelle e Barack Obama _ a quem apóia no novo mandato. Ellen e Portia levam uma vida discretíssma, circulam sempre acompanhadas da mãe de Ellen e tem juntas uma fundação de apoio a mulheres com Aids. Mais tradicional, impossível.

O fato é que o tiro das Milhões de Mamães, saiu pela culatra. A JC Penney emitiu um comunicado apoiando Ellen ''incondicionalmente'', os apresentadores de TV tomaram as dores da colega e em todos os programas apoiaram ao vivo Ellen e a JCP pela decisão corajosa de não demiti-la.

E, para coroar, os fãs de Ellen fizeram uma corrente de repulsa a Milhões de Mamães e uma verdadeira horda de fãs invadiu ontem a JC Penney, comprando o que viam pela frente e sacudiam seus cartões pela loja gritando ''eu vim aqui pela Ellen!'' Foi a maior venda da loja depois do natal.

É óbvio que não cabe mais no mundo de hoje esse tipo de preconceito. E é óbvio que se eu morasse lá, também iria a JC Penney (inclusive entrei no site de apoio a ela  - clique aqui para apoiar Ellen). 

Mas adoro o fato de os Estados Unidos serem um país livre, onde todas as pessoas são ouvidas.  Até a primitiva e antiquada Milhões de Mamães, com seu moral ultrapassado  pode se manifestar _ mesmo que seja para ser massacrada depois. E os milhares de fãs _ e cidadãos sensatos _ podem gritar, berrar e calar, com gestos e ações,  a feia voz do preconceito. Isso não é maravilhoso?! 

Adoro essa frase de Voltaire: '' Posso não concordar com nenhuma palavra do que você disse, mas defenderei até a morte o seu direito de dizê-las.''

E viva a liberdade!