Quando a pequena Gloria Laura Vanderbilt nasceu, seu futuro parecia cor de rosa. Ela era a única filha da bela Gloria Morgan Vanderbilt, uma linda atriz, nascida na Suiça, de 17 anos, e do herdeiro das ferrovias e membro de uma das mais ricas e tradicionais famílias americanas, Reginald Vanderbilt, então com 48 anos. Além disso o rostinho perfeito da bebê dava mostras de que a pequena Gloria seria um deslumbre.
Mas nem tudo saiu como o esperado. Um ano após o nascimento da pequena Vanderbilt, seu pai morreu de cirrose em um hospital de NY, deixando a viúva Glória Morgan então com 18 anos, com uma filhinha que tinha uma herança bilionária.
O problema é que Gloria Morgan não estava preparada para tamanhas responsabilidades: nem ser mãe, nem ter tanto dinheiro.
Glória mudou-se com a baby Gloria para a Europa, onde vivia sua família, e caiu no mundo louco do high society irresponsável. Teve vários casos amorosos complicados, um deles incluía um romance gay com uma condessa russa. Gloria Mãe tinha como companheira de noitadas e festas sua irmã gêmea, Thelma Morgan, que era amante do Duque de Windsor.
Entre festas, roupas, jóias, viagens e amantes caros, Gloria mãe gastava a herança da filha e a relegava aos cuidados de uma babá, que por mais dedicada que fosse, e ela era, não conseguia suprir a falta da mãe. E assim, a pequena Gloria Vanderbilt, a herdeira de uma das maiores fortunas americanas, vivia sozinha em Paris com Dodo, a babá.
Até que a tia de Gloria, Gertrude Vanderbilt Whitney, irmã de seu pai, entra na justiça e pede não só a guarda da pequena (Gloria tinha 5 anos), como também, que Gloria Mãe seja afastada do comando da herança da sobrinha. Gertrude, uma artista plástica que dividia seu tempo entre a família e a caridade, se preocupava com a sobrinha. Com o apoio do resto da poderosa família Vanderbilt, Gertrude alegava que a cunhada, exercia uma péssima influência sobre a filha, não lhe dava atenção, além de estar dilapidando a herança da pequena. Mas Gloria mãe não iria largar o osso assim tão fácil.
Estava armado o que foi chamado na época de ´´o maior processo do século´´.
Foi travada uma verdadeira batalha nos tribunais americanos e europeus pelo controle de uma fortuna e o destino de uma pequena herdeira, que desde que nasceu era cuidada por uma babá. Tudo acompanhado com sofreguidão pela imprensa e pelo público.
O juiz do caso tinha que controlar a audiência e a imprensa. O caso Vanderbilt X Whitney monopolizava os tabloides e as conversas (uma espécie de O J Simpson sofisticado). A pergunta que não queria calar era: ´´quem vai ficar com Gloria?´´. E com a sua fortuna, bien sur!
Enquanto dezenas de advogados se debatiam nas côrtes, a vida da Gloria Mãe era exposta para o mundo. Os escandalosos casos amorosos, as bebedeiras, as noitadas, os gastos descontrolados, a vida mundana. No meio do turbilhão do processo, uma foto da pequena Vanderbilt andando de carrinho sozinha, com o olhar tristonho, tendo ao fundo a Torre Eiffel, praticamente definiu o caso: havia 3 meses que baby Gloria não via a mãe.
Meses depois, Gloria Morgan perdia não só a guarda da filha como também o acesso a todo e qualquer dinheiro vindo da herança de Reginald Vanderbilt.
Sem dinheiro e sem prestigio, Gloria Mãe teve que deixar a contragosto a vida de luxo e boemia e passou a morar na casa da irmã Thelma em NY (onde viveu até morrer de câncer aos 60 anos de idade).
Enquanto isso, a pequena Gloria, já integrada à nova família da tia Gerturde, crescia linda, elegante e graciosa ao lado dos primos e da babá Dodo numa enorme casa na propriedade da família Vanderbilt em Road Island. Gertrude tentou proteger Gloria da imprensa, mas era impossível. Até a ida da garota à missa era seguida por uma legião de flashs.
Bem administrada pela tia e por vários tutores, a fortuna da menina crescia como ela. Aos 21 anos, Gloria era considerada uma das jovens mais ricas da América. E foi também aos 21, quando pode ter acesso a sua fortuna, que Gloria cortou a mesada que os tutores davam à mãe desde o final do processo. Gloria dizia que sua mãe era jovem, tinha saúde, e podia muito bem trabalhar, como ela fazia. Nessa altura, a jovem Gloria já gostava de moda e despontava como uma socialite invejada e copiada pela juventude dourada de Nova York. Por mais que tia Gertrude a amasse e que Dodo cuidasse dela, a cicatriz da falta da mãe ainda aparecia as vezes. ´´Eu sabia que tinha ser forte. Mas eu também sabia que queria muito pertencer a minha mãe e queria que ela fosse minha´´.
Gloria, que nesta época pouco ou nunca, via a mãe, era linda! Puxou a beleza de Gloria Mãe e a altivez e elegância dos Vanderbilt. A revista Town & Country escreveu em sua edição que a trazia na capa ´´nunca haverá outra Gloria Vanderbilt´´.
Verdade.
Gloria era única! Estilosa até o último fio de cabelo, ela usava o que ninguém ousava. Numa época que todas as mulheres eram loiras, ela era morena. As mulheres pinçavam a sobrancelhas até virarem uma linha. Gloria usava a sua natural, cheia e bem feita. As mulheres queriam o corpo de uma pin up, volumoso. Gloria era um espeto! As mulheres usavam tailleur, Gloria usava caftans e vestidos armados. As mulheres usavam jóias delicadas e Gloria usava bijouterias enormes e diamantes de matar Sherazade de inveja. As mulheres queriam casar, tinham pânico do divórcio e ficavam em casa esperando o marido. Glória casou-se 4 vezes, trabalhava muito e tinha centenas de amigos.
Com seu segundo marido, ela teve o primeiro filho, Leopold Stowkovski. Gloria então parou tudo e se dedicou ao filho pequeno. Após o terceiro divórcio, Gloria teve um romance com Frank Sinatra que deu o que falar: a herdeira e o astro. Foram páginas e páginas de jornais sobre o affair.
Sinatra foi o caso mais famoso, mas Gloria também se envolveu com Marlon Brando e Howard Hughes.
Dizem que o filme Bonequinha de Luxo foi inspirado em Gloria.
Pode ser que sim. Mas o fato é que Gloria nunca foi uma bonequinha de luxo. Era, na sua essência, uma mulher de fibra, livre. Quase uma feminista: ´´ Eu sempre acreditei que uma mulher de sucesso pode ajudar outras mulheres a terem sucesso´´.
Em 1963 ela se casou pela quarta vez com o ´´amor da minha vida´´, Whyatt Coopper, com quem teve 2 filhos, Andersson e Carter. A vida em família era feliz e amorosa. O casal vivia em NY mas viajava o mundo todo e os garotos eram lindos. A felicidade da família Coopper durou até 1978, quando Whyatt, depois de uma delicada cirurgia no coração, morreu. Gloria então passou a se dedicar aos filhos pequenos e ao trabalho.
Usou todo o seu bom gosto, talento e disciplina e lançou uma linha de perfumes com a L´Oreal, uma linha de papel de carta com a Hallmark e uma uma linha de jeans que foi um sucesso estrondoso. Gloria então passou a ser conhecida como a ´´rainha do jeans´´. As campanhas da marca Gloria Vanderbilt eram estreladas pelas principais tops do mundo e estavam em todas as lojas do planeta. Eu mesma tinha um jeans Gloria Vanderbilt, acreditam?
E na vida pessoal, viúva e ainda linda e vigorosa, Gloria encanta-se com o fotógrafo famoso e ídolo americano, Gordon Parks. Gordon, um negro altivo, elegante e intelectual, apresentou a Gloria o mundo das artes, da literatura, da política e do ativismo social. Um mundo que ela adorou e do qual nunca mais saiu.
Mas quando tudo parecia ir bem, eis que Gloria descobre que seu sócio e seus advogados deixaram de pagar os impostos devidos e lhe deram um rombo de milhões de dólares. Gloria voltava às barras dos tribunais. Desta vez, para defender seu patrimônio e sua empresa. O processo foi lento e quando acabou, sua empresa a GV Ltda estava quase quebrada. Gloria teve que vender suas propriedades em South Hamptons e em NY para quitar a dívida com o Fisco americano. Mas o sangue dos Vanderbilt ainda corria nas veias dela e em poucos anos Gloria recupera parte do patrimônio emprestando seu nome para cosméticos, perfumes e acessórios de moda, além de fazer bons investimentos. Era o nome Vanderbilt, desbravadores da América, falando mais alto.
Então, em 1988 veio o derradeiro golpe. Seu filho caçula, Cooper, pula da janela de seu apartamento em NY, na 10th Avenue, e morre aos 23 anos de idade.
Gloria ficou inconsolável. Para ela que foi forçada tão cedo a viver longe da mãe, ter filhos e poder cuidar deles era tudo o que ela mais amava. Foi preciso o tempo, o apoio dos bons amigos (Diane von Furstemberg, Ralph Lauren, etc), da família e uma enorme coragem para levantá-la. Mas ela, mais uma vez, conseguiu. Voltou ao trabalho, aos seus eventos de caridade, a frequentar a ópera e o teatro, sempre ao lado do seu companheiro Gordon Parks e de seu filho Andersson, que se tornara então, um famoso apresentador de TV. Uma espécie de Willian Bonner do Tio Sam.
Há alguns anos atrás, todo a vida de dramas e glamour de Gloria voltou às manchetes quando um livro e um filme sobre a sua vida foram lançados e quando seu filho Andersson, numa atitude corajosa e totalmente apoiada pela mãe, se declarou gay. Andersson se tornou então, o primeiro apresentador de jornalismo a admitir sua orientação sexual com firmeza. Gloria não saiu do lado do filho.
Gloria morreu hoje, aos 95 anos. Ainda era uma mulher altiva, elegante e cheia de personalidade.
Uma exposição de suas criações está sendo preparada numa galeria em NY. Gloria, que perdeu seu companheiro Gordon em 2006, supervisionou tudo pessoalmente. Até o ano passado, ela ainda viajava para divulgar o livro que escreveu junto com o filho, Andrsson.
Não é a toa que uma de suas frases favoritas é de Oscar Wilde:
´´Viver é a coisa mais rara do mundo. Na maioria das vezes, as pessoas apenas existem´´.
5 comentários:
Kika, um filho morreu, o outro ficou famoso e o primeiro filho? Ela só teve 3 filhos?
Kika,
amo essas histórias!!!
Bjsssss,
BL
Kika e o filho do primeiro casamento ?
Boa tarde.
Sou genealogista de site de família.
No 1º casamento teve dois filhos: Leopold Stanislaus Stokowski, "Stan" (casou 2 vezes e teve tres filhos), nascido a
22 de Ago de 1950 e Christopher Stokowski
31 de Jan de 1952.
Prof AristeuCampos
Amooooooooo quando você conta histórias, Kika!!!!
Postar um comentário