Lula e o poder

Fico me perguntando o que leva uma pessoa a se desvirtuar tanto de seus ideais.

Não que eu ache que não possamos mudar de idéia ao longo da vida, mas mudar de valores é outra coisa.

Como sou velha, me lembro de Lula, um metalúrgico do ABC paulista, barbudo e raivoso, gritando por Diretas - Já, lutando contra a ditadura, defendendo com unhas e dentes os ´´direitos dos trabalhadores´´. Lula amedrontava as elites e não tinha ainda a total confiança das classes menos favorecidas. Eram tempos difíceis,  de um  Brasil que saia de uma ditadura cruel, tinha uma inflação que corroía o dinheiro do trabalhador e enriquecia alguns poucos. Mas um grupo de militantes engajados e atuantes, junto com os trabalhadores paulistas, somados a uma esquerda intelectual saída de anos de mordaça, fizeram de Lula o seu líder.

O resto da história a gente já sabe. O ex-metalúrgico levou a presidência, governou o país por oito anos, mudou a vida do brasileiro (que agora é quem paga o preço do sonho do poder eterno). 

A raiva do tempo de operário ficou escondida nos meandros do poder, nos presentes, na vida confortável e luxuosa que veio junto com o cargo. 

O idealismo de mudar o país, sumiu, perdido entre a montanha de dinheiro sujo dos seus comparsas corruptos e corruptores (sim, são todos iguais). 

E o povo, que o tinham como líder e exemplo, e que depositavam no ex-metalúrgico a esperança de

uma vida melhor, foi enganado. Enganado por um projeto de governo grandioso, desonesto e egoísta, onde a grande maioria dos brasileiros comuns não faria parte. 

Antes Lula tivesse conservado a sua raiva. A raiva contra a injustiça, a corrupção, o desmando, a desonestidade. 

´´Quase todos os homens são capazes de suportar adversidades. Mas se quiser por à prova o caráter de um homem, dê-lhe poder´´, já dizia Abraham  Lincoln. 

Lula suportou as adversidades de ser um operário num país com o Brasil dos anos 70. Mas sucumbiu ao poder.