Censura nunca mais



Arte é um reflexo da nossa sociedade.  E vice-versa. Se a arte por vezes nos incomoda é porque ela mostra uma civilização apodrecida. Quer gostemos, quer não. 
Querer ou não olhar de frente para o que nos incomoda ou angustia é um direito de qualquer cidadão. Isso se chama liberdade. Eu posso querer ou não ver, ouvir ou sentir. Mas é inadmissível que um poder, seja ele qual for, nos diga o que pode e o que não pode. 







´´Domingo, 10 de Setembro. O Santander Cultural de Porto Alegre decide encerrar a exposição Queermuseu, respondendo a um amplo boicote promovido por consumidores do banco que se diziam "ultrajados" com algumas das obras expostas.
Quinta, 14 de Setembro. Um quadro em exposição no Museu de Arte Contemporânea de Campo Grande é apreendido pela polícia, depois de três deputados registrarem um boletim de ocorrência alegando que a obra, intitulada "Pedofilia" (e definida pela própria artista como uma denúncia) faria apologia ao crime. Os deputados afirmaram ainda que o quadro agride a "família, a moral e os bons costumes".
Sexta, 15 de Setembro. A apresentação da peça "O Evangelho Segundo Jesus, Rainha do Céu", que recria a história de Jesus como uma transexual, no SESC de Jundiaí, é cancelada por decisão judicial. O juiz que proferiu a decisão disse considerar o espetáculo de "mau gosto" e explicou que "não se pode admitir a exibição de uma peça com um baixíssimo nível intelectual que chega até mesmo a invadir a existência do senso comum e a macular o sentimento do cidadão comum."
Os clientes do Santander, os deputados do Mato Grosso e o "cidadão comum" de Jundiaí têm direito à opinião, ao ultraje, ao boicote. Arte que cria discussão pública, reação forte, questionamento, é arte que move o mundo, é arte que cumpre ao menos uma de suas muitas possíveis missões. Com isso dito, o Santander –enquanto entidade privada que se beneficia de uma política pública de fomento à cultura– a polícia do Mato Grosso e a Justiça de São Paulo não podem dar ou deixar de dar acesso às obras tendo como base o ultraje do público. Aí, é censura sim. E a liberdade de expressão ou é valor absoluto, ou deixa de ser útil como pilar essencial da democracia.
Sou daquelas que acreditam que, desde que não exista incitação clara à violência contra pessoas, temos que poder falar de tudo. Até das coisas que desprezo. Até das coisas que boicoto, que protesto, que rechaço. Até daquilo que nem considero arte. Porque definir o que é e o que não é arte é tarefa das mais difíceis. E muitos de nossos artistas consagrados foram considerados degenerados por seus contemporâneos.
Entender que arte só é arte se ela não "invadir o espaço do senso comum" é pressupor que existe um árbitro do senso comum. Do belo. Do que é denúncia e do que é apologia. Do que é crítica e do que é desrespeito. E o árbitro –para além da decisão da Justiça, que não orientou nem a ação do Santander nem a da polícia de Campo Grande– muitas vezes acaba sendo unicamente quem tem poder. E se quem tem poder discordar de você?
Terça, 12 de Setembro. A polícia do Rio começou a investigar vídeos que circulavam nas redes sociais. Em um deles, um suposto traficante obriga uma senhora a destruir objetos utilizados em rituais de candomblé e umbanda enquanto grita "em nome de Jesus, porra!" e "todo o mal tem que ser desfeito". Em outro, um pai de santo é obrigado a destruir as guias que representam os orixás.
Se quem tem poder discorda de você, todo o mal tem que ser desfeito. Se quem tem poder discorda de você, quem tem poder decide se a arte é arte ou putaria. Se quem tem poder discorda de você, quem tem poder decide se a crença é crença ou bruxaria. Em nome da moral, dos bons costumes, do senso comum, e de Jesus, porra.´´
Coluna da genial Alessandra Orofino, publicada hoje na Folha de São Paulo

5 comentários:

Anônimo disse...


Quêêê issuuuu?????!!!!!

PODER não pode dizer o que pode e o que não pode?! Isso é civilização!

O sorrateiro politicamente correto do "É PROIBIDO PROIBIR" - maio de 68 / França - DATADO.

Affff...

Quanto mal nos faz... em nome da "arte" @&#¬¢³£%¢§{£³¢¬§ª

Anônimo disse...

Nem li suas observaçoes todas ate o fim...mas me resumo a: NAO DIGA O NOME DE JESUS EM VÃO.

Perdemos o senso de muitas coisas nessa modernidade que hoje o politicamnete correto esta incorreto

Como tudo na vida existe o 8 ou 80 e essa arte teatral de fazer Jesus Cristo um trans é o maior dos absurdos , eles na verdade quiseram aparecer , cada um no seu quadrado. Querem liberdade, se expor? ? Respeitem o espaço e a liberdade do outro.
Ninguem é obrigado a aceitaar tanta mediocridade e tanta ignorancia!

Deus tenha piedade de nös, pq do jeito que está mal poderemos abrir a boca

Martha

Walter Arruda disse...

Se é arte ou não , deve existir bom senso e respeito acima de tudo.
Questões que atacam e subvertem temas de fé, com relação a esta peça infame que foi citada no texto, deve ser rejeitada.
Querem fazer piada até com Deus ? Por favor....
Realmente são coisas assim que a sociedade está apodrecida

Anônimo disse...

Kika, apesar dos comentários, não desisti não. Abraços

Walter disse...

Seria pra "desistir" se os comentários estivessem dando mal conselho
Me poupe!